sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Memorial de um Áries



               Eu acordo comumente depois das nove. Antes disso, pode-se considerar que estou de pé e de olhos abertos. Quando o despertador toca, eu fico louco para desliga-lo e, em um mundo totalmente envolto de tecnologia de informação, passo 20 minutos checando redes sociais e mensagens, antes de me colocar em pé. Outro detalhe: coloco meu despertador 30 min antes do meu compromisso matutino. Conclui-se que, subtraindo 20 min, eu estou sempre atrasado.               


                Finalmente eu me levanto e me encaminho para o banheiro e, apesar de não ser vaidoso, vou em direção ao espelho antes de tudo. Checo as espinhas e cravos, aperto alguns e depois volto para o quarto. Lá, eu troco minha roupa pela metade, depois volto para o banheiro. Aí sim, eu uso o vaso, escovo os dentes e lavo o rosto.
                Já de roupa trocada, é hora do café da manhã. Eu não tomo café da manhã quando estou atrasado (eu sempre estou atrasado), mas quando tem coisa boa, eu tomo sim. Apesar de não aparentar, o que eu mais gosto de fazer é comer. Comer é muito bom. Comer é sensacional. Comer é maravilhoso. Sem adjetivos para descrever precisamente o que é comer. Comer é comer e é isso aí. Cozinhar é legal, mas o vetor contrário, lavar a louça, supera minha disposição de cozinhar em casa. Eu sou um pouco preguiçoso: tudo que eu puder evitar, evitarei. Problemas, trabalhos... Praticidade é a segunda melhor coisa, depois de comer, claro.
                Eu gosto das coisas do meu jeito. Não venha opinar se sua opinião for contrária a minha. Não irei te contrariar, apenas direi “nossa, verdade” mas em pensamento irei desejar você bem longe dali. As pessoas dizem que tenho espírito de liderança, eu discordo. A liderança é uma sobra pra mim. Sempre colocam as coisas sobre meu ombro e eu acabo ficando com papel de herói responsável e eu não sei se isso é bom ou ruim. Bom porque acabo criando um certo carisma, ruim porque: responsabilidade? Tô fora!
                Outra coisa que falam sobre mim é que meu “gênio é muito forte”. É, isso eu não posso negar. A ironia me seduz de tal forma que fica impossível resistir a ela em uma discussão com alguém. Posso parecer tranquilo, mas não mexe comigo. Você pode ser escroto perto de mim, mas não compartilhe sua escrotice comigo, porque senão... meu amigo... Melhor se sentar porque você vai ouvir bastante.         
                Em relacionamentos pessoais, sou sempre o mal interpretado. Não nego que de vez em quando eu faço um drama, mas é o básico pra qualquer relação. Mas as pessoas me tarjam como o extremo: o extremo dramático, o brigão, o extremo socialista salvador da pátria; enquanto eu, no meu particular, só queria estar no meu quarto com meu notebook no colo assistindo algum seriado ou filme, comendo alguma porcaria. Na verdade, meu maior desejo é que as pessoas fossem normais, sabe? Que cuidassem dos próprios problemas em vez de se preocupar com os das outras. Eles arranjam maneiras de salvar o mundo que não englobam todas as áreas que precisam ser salvas. É tão simples: salvar o mundo é cuidar da própria vida. Assim, o amor a todas as coisas reinará. E outra coisa: sou bem utópico as vezes.
                Transpareço ser romântico, mas não. Não sei ser romântico, não sei paquerar, não sei dizer que estou afim, mas sou mestre em me aproximar. Aí eu me aproximo tanto que as segundas intenções viram vento. E, se por um acaso eu for romântico, acredite, serei exagerado. Daqueles que chegam com uma rosa na boca no meio da avenida. Será que tem curso no SENAI pra Don Juan?
                Eu camuflo meus problemas pessoais em comicidade. Se palhaço fosse adjetivo, seria usado pra me descrever. Gosto do contato com as pessoas, por isso converso com todos, mas nem todos sabem dos meus problemas pessoais. Talvez nem saibam que eu tenha.
                Problemas pessoais: eu tenho, mas não sei lidar. Aliás, qualquer problema: eu vou arrastando até o ponto em que posso. Aí, quando a bomba está prestes a explodir, eu vou e resolvo em menos de minutos. E saio aliviado, todo sorridente, como aquelas cenas em que o cara sai rindo e atrás dele uma grande explosão acontece.
                Dizem que eu sou bipolar, mas quem não é? Ao meu ver, tarjar alguém “bipolar” é um ato muito egoísta e hipócrita, porque entende-se que a pessoa que julga é perfeita e tem a vida perfeita e isso não lhe dá margem para ter um dog day.
                Na fila do pão, eu sou aquele rindo de uma piada idiota que leu na internet, e o mesmo que é fitado com estranheza depois de explicar para alguém o porquê da risada. Quando não sou mal interpretado, sou incompreendido (e dramático.)
                O legal é que tenho uma percepção muito ampla sobre o mundo. Talvez não pareça, mas sei me portar em diferentes situações que me aparecem. Não é ser duas caras, é ser camaleão: ter limites para se expor. E no final, em qualquer que seja a situação, eu vou ser eu mesmo. Tendo comida é o que importa.
                Eu não acredito em horoscopo, e nem li meu perfil astrológico para redigir esse texto. Se o perfil de um ariano for assim, parabéns aos astros; se não, paciência.
                Eu acredito que o ser humano nasce com um dom maravilhoso chamado “individualidade”. Ninguém é igual a ninguém, o que também nos torna “imprevisíveis” e assim é a vida, imprevisível. Escolhas fazem nosso destino, e não planetas rochosos, gasosos, com anéis, sem anéis; com todo o respeito. Resumindo: eu acho que Plutão e o resto do sistema solar estão cagando para mim e ainda mais para minha desenvoltura sexual. 

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