Quando você chegou, era tão pequenininho e tão bonitinho.
Seu latido era agudo, e você não podia ver ninguém chegando que já vinha com o
rabinho abanando. Seu cheirinho de filhote era tão bom: um aroma de leite,
misturado com pelo de cachorro. Seus dentinhos estavam começando a crescer e você
não parava de morder a minha mão e depois lambia. Às vezes, você estava no meu
colo, fazendo essa brincadeira de morder e lamber, e eu estava atento a outra
coisa e, quando percebia, você havia caído no sono. E eu tinha dó (muita dó) de
tirá-lo do meu colo e te acordar.
O tempo foi passando, você foi crescendo e ficando sapeca.
Quantas vezes você destruiu as coisas que deixavam à sua vista: chinelos,
sapatos, toalhas, contas... Sem contar as vezes que você ia ao banheiro para
beber água da privada ou pegar os papéis do lixo. Você levava uns tabefes da
minha mãe, minhas tias te odiavam, meus avós pediam à minha mãe para te soltar
na rua. Em vários dias eu sentia que eu era único a gostar de você aqui em
casa. Mas isso não significa que eu não tenha perdido a paciência com você
também.
Na hora do almoço, você enfiava a cabeça entre as minhas
pernas e ficava com aquela língua pra fora, baforando seu hálito na minha cara,
pedindo comida. E eu, te jogava longe, mas você sempre voltava. Quantas vezes
eu, tentando me concentrar, fui atrapalhado por você, que estava com seu
ursinho na boca, querendo brincar? Incontáveis. Mas, por sorte ou azar, você
cresceu mais um pouco e se tornou adulto.
De forma mais sutil, você construiu seu charme. Você trocou
suas corridas pela casa por ficar deitado o dia todo, com a cara apoiada nas
patas da frente. Quieto. Quando ouvia algum barulho, a orelha levantava, mas de
forma muito elegante. Quando saíamos de casa, a última imagem era de você
sentado, nos fitando como se fosse dizer “pode deixar”. E quando chegávamos, a
sua fase adolescente voltava por um momento: você corria e apoiava suas patas
da frente nas minhas coxas, abanando seu rabo, com um olhar de “saudades de
você”.
Parece que de alguma forma você conhecia o meu humor. Não
esqueço das vezes em que eu estava para baixo e você, da forma mais silenciosa
possível, se punha do meu lado e deitava, apoiando a sua cabeça na minha perna.
E aquilo, sem dúvida alguma, era muito melhor que qualquer conselho de qualquer
amigo.
No decorrer da vida, conhecemos uma infinidade de pessoas e
junto com elas, diversos sentimentos. Umas a gente acaba carregando pra sempre,
outras entram e saem rapidamente. Tem aquelas que são por uma festa, outras que
são de finais de semana. Mas eu te garanto: nenhuma amizade supera a amizade
que um animal tem com o seu dono.
É um sentimento tão intenso e tão invisível a nós que, quando
a maioria toma conhecimento, já é tarde demais. Eles são chutados, às vezes até
espancados; sem contar as vezes que são feitos de bobos para tirarem alguns
risos da família e, apesar de tudo isso, a lealdade é sempre a mesma. O AMOR no
olhar daquele filhotinho que abanava o rabinho quando te via é o mesmo naquele
do que já quase nem enxerga direito.
Você se foi, e agora, só restam as lembranças compartilhadas
no almoço de domingo. A minha mãe de vez em quando até chora. Meus avós riem
como criança quando lembram das suas piruetas por um pedaço de pão. Minhas
tias, que te odiavam, hoje lembram de quão macios e bonitos eram os seus pelos.
Eu não era o único que te amava.



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