Olá! Quanto tempo, hein? Se você era aquele que ficava quieto durante a aula toda e ia bem em todas as
provas, ou se era aquele baderneiro que zerava a maioria. Se eu falava com você todos os dias, ou uma vez no mês. Se sentávamos juntos no intervalo, ou se você era aquele que sabia tudo e se negava a passar cola. Não importa quem você
tenha sido no meu ensino médio: eu sinto sua falta!
Me conta, como está sua vida agora? Você entrou naquele
curso que queria, ou está trabalhando no negócio de algum tio? Lembra daquela
vez que nos juntamos no quintal da sua casa para fazer aquela maquete de
geografia, que poderia ser feita em uma tarde, mas que demoramos quase a semana
inteira pra fazer porque gostávamos de enrolar? Naquele dia falávamos do
futuro, e de como queríamos nossas vidas.
Nossa turma tem dentistas, engenheiros, arquitetos,
fisioterapeutas, enfermeiros... Lembra daquela menina que estudou conosco na
oitava série, e do nada sumiu? Ela engravidou e vai se casar! Como são as
coisas, né? São em momentos assim que eu percebo que o tempo passou, e como eu
queria poder segurá-lo mais um pouco, pra eu ter todos nas minhas manhãs
novamente.
Ainda é estranho pra mim acordar pela manhã e não colocar
uniforme. Não tomar aquele café apressado e não ir pra escola te encontrar com sua
cara de sono. Tinha dias que minha mãe me chamava e saia para o trabalho, e eu
acabava dormindo mais um pouco e acordava em cima da hora. E eu sempre ligava
para alguém pedir para o porteiro segurar o portão.
E na primeira aula todos estavam dormindo, assim como em
todas as outras. Nas aulas de educação física ficávamos sentados debaixo
daquela árvore do lado da quadra. E quando tínhamos prova no último horário, e
fazíamos as colas durante a aula toda? Bons tempos!
Sinto falta de todos, até de quem eu não me dava bem. Sinto
falta daquela menina que eu sabia que era falsa, daquele cara que se achava
melhor de todos. Daquele grupinho que nunca falava comigo, exceto quando tinha
algum trabalho de física (como se eu soubesse física, né?)
E aqueles encontros em que raramente reuníamos a maioria da
sala? Mesmo que houvessem colegas que não se davam bem, só o fato de estar uma
parte da turma reunida já me satisfazia.
O fim do terceiro ano foi chegando, a pressão era imensa.
Lembra? Quantas vezes brigamos pelo dinheiro da turma, pela cor da camiseta de
formatura, ou simplesmente por vontade de descontar em alguém toda a pressão
contra nós? Eu ainda lembro daquele churrasco, que teve piscina e tudo mais. E
o amigo secreto? Era uma tradição fazer amigo secreto na sala, todos os anos.
Mas aquele foi especial, porque foi o último.
Foi preciso o tempo passar para eu me dar conta que tudo o
que fizemos (ou deixamos de fazer) no “terceirão” foi pela última vez. Agora
temos outra vida, com outras pessoas.
Tem dias que eu me pego pensando se a nova turma de todos é tão
boa quanto era a nossa no ensino médio. Se eles colocam apelidos nas
professoras, se eles brigam um com o outro e depois de cinco minutos estão
juntos de novo. Se tem aquelas intrigas de ensino médio, um querendo cuidar da
vida do outro. Sinto falta até desse tipo de coisa, acredita?
Naquela nossa última confraternização, com todas aquelas
fotos no slides, quando a ficha caiu: acabou. E a galera se abraçou, de uma
forma verdadeira. Eu abracei gente que eu nunca havia abraçado, e que passava
mais tempo comigo que minha mãe! Naquele momento, acredito que descobrimos o
quanto fomos importantes para cada um durante o período juntos.
***
Vez em quando eu encontro alguns colegas pela rua. Um aceno
de longe com um sorriso. Um sorriso que eu via todo dia, e que agora passo
meses sem ver. Às vezes alguns param para bater um papo, perguntam como eu
estou, “o que é que você tá fazendo da vida?”. Alguns ralaram no primeiro ano
na faculdade (para me confortar, eu penso que seja porque eles não têm uma
turma como foi a nossa, para passar cola quando a professora está do outro lado
da sala). Tem uns que não converso desde a formatura. Outros que costumavam ser
meus melhores amigos e que agora vejo muito pouco. Alguns eu vejo todo dia, e é
como se eles fossem aquela fotografia que serve pra te lembrar que você viveu
algo maravilhoso, mas que passou.
Mas eu fico feliz, sabe? Em saber que cada um está
construindo seu futuro da melhor maneira possível, mas aquele sentimento
nostálgico que persiste quando de repente vejo alguma foto de outra turma
iniciando o terceiro ano é impossível de conter.
Eu paro, analiso a foto. Vejo se eles têm o que nós tínhamos
na nossa época de terceiro. E a resposta é sempre a mesma: eles nunca serão
como a gente. Piores ou melhores, nós fomos o terceiro ano mais importante e
especial que nossa escola já teve.
E eu sei que quando o tempo passar mais um pouco, ao colocar
nossos filhos na escolinha, iremos lembrar de como foi a nossa caminhada, e
quem caminhou com a gente.
Enfim, amigo, espero que tudo esteja bem por aí. Que seu
futuro esteja brilhante, como você planejou muitas vezes comigo e com o resto
da turma. Sinta-se abraçado, como aquele último abraço naquela confraternização.
Não esquece de mim, porque eu nunca me esquecerei de você e
da nossa turma do ensino médio.
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