quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Aos meus colegas de ensino médio

        Olá! Quanto tempo, hein? Se você era aquele que ficava quieto durante a aula toda e ia bem em todas as provas, ou se era aquele baderneiro que zerava a maioria. Se eu falava com você todos os dias, ou uma vez no mês. Se sentávamos juntos no intervalo, ou se você era aquele que sabia tudo e se negava a passar cola. Não importa quem você tenha sido no meu ensino médio: eu sinto sua falta!
        Me conta, como está sua vida agora? Você entrou naquele curso que queria, ou está trabalhando no negócio de algum tio? Lembra daquela vez que nos juntamos no quintal da sua casa para fazer aquela maquete de geografia, que poderia ser feita em uma tarde, mas que demoramos quase a semana inteira pra fazer porque gostávamos de enrolar? Naquele dia falávamos do futuro, e de como queríamos nossas vidas.
       Nossa turma tem dentistas, engenheiros, arquitetos, fisioterapeutas, enfermeiros... Lembra daquela menina que estudou conosco na oitava série, e do nada sumiu? Ela engravidou e vai se casar! Como são as coisas, né? São em momentos assim que eu percebo que o tempo passou, e como eu queria poder segurá-lo mais um pouco, pra eu ter todos nas minhas manhãs novamente.

       Ainda é estranho pra mim acordar pela manhã e não colocar uniforme. Não tomar aquele café apressado e não ir pra escola te encontrar com sua cara de sono. Tinha dias que minha mãe me chamava e saia para o trabalho, e eu acabava dormindo mais um pouco e acordava em cima da hora. E eu sempre ligava para alguém pedir para o porteiro segurar o portão.
       E na primeira aula todos estavam dormindo, assim como em todas as outras. Nas aulas de educação física ficávamos sentados debaixo daquela árvore do lado da quadra. E quando tínhamos prova no último horário, e fazíamos as colas durante a aula toda? Bons tempos!
       Sinto falta de todos, até de quem eu não me dava bem. Sinto falta daquela menina que eu sabia que era falsa, daquele cara que se achava melhor de todos. Daquele grupinho que nunca falava comigo, exceto quando tinha algum trabalho de física (como se eu soubesse física, né?)
       E aqueles encontros em que raramente reuníamos a maioria da sala? Mesmo que houvessem colegas que não se davam bem, só o fato de estar uma parte da turma reunida já me satisfazia.
       O fim do terceiro ano foi chegando, a pressão era imensa. Lembra? Quantas vezes brigamos pelo dinheiro da turma, pela cor da camiseta de formatura, ou simplesmente por vontade de descontar em alguém toda a pressão contra nós? Eu ainda lembro daquele churrasco, que teve piscina e tudo mais. E o amigo secreto? Era uma tradição fazer amigo secreto na sala, todos os anos. Mas aquele foi especial, porque foi o último.
       Foi preciso o tempo passar para eu me dar conta que tudo o que fizemos (ou deixamos de fazer) no “terceirão” foi pela última vez. Agora temos outra vida, com outras pessoas.
      Tem dias que eu me pego pensando se a nova turma de todos é tão boa quanto era a nossa no ensino médio. Se eles colocam apelidos nas professoras, se eles brigam um com o outro e depois de cinco minutos estão juntos de novo. Se tem aquelas intrigas de ensino médio, um querendo cuidar da vida do outro. Sinto falta até desse tipo de coisa, acredita?
       Naquela nossa última confraternização, com todas aquelas fotos no slides, quando a ficha caiu: acabou. E a galera se abraçou, de uma forma verdadeira. Eu abracei gente que eu nunca havia abraçado, e que passava mais tempo comigo que minha mãe! Naquele momento, acredito que descobrimos o quanto fomos importantes para cada um durante o período juntos.
***
       Vez em quando eu encontro alguns colegas pela rua. Um aceno de longe com um sorriso. Um sorriso que eu via todo dia, e que agora passo meses sem ver. Às vezes alguns param para bater um papo, perguntam como eu estou, “o que é que você tá fazendo da vida?”. Alguns ralaram no primeiro ano na faculdade (para me confortar, eu penso que seja porque eles não têm uma turma como foi a nossa, para passar cola quando a professora está do outro lado da sala). Tem uns que não converso desde a formatura. Outros que costumavam ser meus melhores amigos e que agora vejo muito pouco. Alguns eu vejo todo dia, e é como se eles fossem aquela fotografia que serve pra te lembrar que você viveu algo maravilhoso, mas que passou.
       Mas eu fico feliz, sabe? Em saber que cada um está construindo seu futuro da melhor maneira possível, mas aquele sentimento nostálgico que persiste quando de repente vejo alguma foto de outra turma iniciando o terceiro ano é impossível de conter.
       Eu paro, analiso a foto. Vejo se eles têm o que nós tínhamos na nossa época de terceiro. E a resposta é sempre a mesma: eles nunca serão como a gente. Piores ou melhores, nós fomos o terceiro ano mais importante e especial que nossa escola já teve.
       E eu sei que quando o tempo passar mais um pouco, ao colocar nossos filhos na escolinha, iremos lembrar de como foi a nossa caminhada, e quem caminhou com a gente.
       Enfim, amigo, espero que tudo esteja bem por aí. Que seu futuro esteja brilhante, como você planejou muitas vezes comigo e com o resto da turma. Sinta-se abraçado, como aquele último abraço naquela confraternização.


       Não esquece de mim, porque eu nunca me esquecerei de você e da nossa turma do ensino médio. 

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